segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Índice de produtividade rural

O governo federal está para baixar uma portaria, que ao meu ver, pelo menos até que me provem o contrario, vai trazer maiores problemas para o campo brasileiro. O chamado índice de produtividade rural que vai ser usado pelo governo federal para classificar se a propriedade rural atende ou não sua função social, se a terra é produtiva ou não,e isso vai acabar de arrebentar de vez com a produção agrícola brasileira, criando o inverso do lógico, aumentando o capital no campo.
A agricultura brasileira, sob a bandeira do agronegócio é predatória ao campo brasileiro. Não é novidade para minguem que mesmo com as ações de pressão do MST, a concentração de terras no Brasil está aumentando,isso é um fato, não importa se por fusões de empresas, ou outro motivo que seja, o fato que esta aumentando como confirmado em dados recentes do IBGE, isso é um fato, contra fatos, não há argumentos. O problema da estrutura fundiária brasileira remonta desde seu passado de colonização tipo exploração, onde as grandes plantações para exportação colocava esse modelo concentrador de terras, e recentemente temos vistos um enorme movimento de assalariamento do campo, na qual o trabalhador rural não é mais um colono,e sim um morador urbano que vai ao campo apenas realizar seu trabalho e volta no final do dia em um processo de migração pendular. Esse processo de assalariamento do campo, que não há duvidas gera uma concentração de renda e terras, não é fenômeno tipo do campo, isso aconteceu também com os profissionais liberais nas cidades. Hoje advogados, médicos, dentistas,engenheiros, professores, nutricionistas, contadores entre muitos outros, sofrem também esse processo, ou seja, qualquer pessoa com o mínimo de visão na conjuntura atual percebe esse fenômeno e sabe também das perdas de renda que esses trabalhadores vem tendo no decorrer do tempo,tendo suas profissões prostituídas,e a cada dia menos valor auferido mensalmente pelo seu trabalho.Talves, a única profissão atualmente que ainda conserva seu status de importância diante da população seja a medicina, talvez pela força e loob de seu conselho de medicina, talvez pela dificuldade da classe periférica ter alcance a essa profissão, o médico é um profissional ainda fora do assalariamento ocorrido com os demais profissionais liberais. Não quero aqui em hipótese nenhuma defender uma espécie de elitização das profissões, claro que sei que todo trabalho tem sua importância sendo impossível determinar a mais importante, todas são fundamentais em sua importância para a sociedade. Meu desejo com o exemplo acima, é demonstrar que o capitalismo de mercado, cujo o lucro e crescimento é o maior objetivo, que só da valor ao ser humano enquanto consumidor e nunca como produtor /trabalhador, que é hipócrita na defesa dos grandes lucros e pena os pequenos negócios individuais, que compactua com a monopolização em todos os setores, que aceita a extinção de padarias, açougues, por conta dos grandes mercados, que apodrecem,enfraquecem os sindicatos que deveriam atuar na defesa do trabalhador, é o mesmo que irá colaborar, com a tragedia que está prestes a acontecer com a agricultura brasileira.
Se o índice de produtividade passará por mudanças em números de produtividade, é claro que as médias propriedades serão as primeiras a serem atingidas. São essas que tem maior dificuldade de produção e menor produtividade. Qual produtor terá primeiro seu nome incluído no critério de não produtivo? A Cutrale em sua fazenda própria invadida; ou o produtor pequeno que acaba vendendo pra Cutrale. Em uma eventual queda de venda do suco da laranja, é lógico que a Cutrale vai vender seu suco nem que a preço de custo para manter sua produtividade rural, e o médio produtor, vai ficar sem vender sua produção, diminuirá o acompanhamento técnico de sua lavoura, terá queda de renda devido a crise desse ano, terá perda de produção no próximo ano. Estará ele na lista negra e a Cutrale não.
De certa forma, acredito que generalizar as terras por critério de produtividade é um equivoco, porque os médios proprietários, associados em cooperativas associações ou mesmo individualmente enfrentam problemas de concorrência desleal dos imensos latifúndios, o preço de seus produtos no final da colheita ficam a merce do mercado controlado por investidores, que ditam o preço a serem vendidos. O produtor gigante, simplesmente guarda, estoca, e os pequenos que precisam cobrir o financiamento no banco, perdem o sono e a saúde. Isso é uma realidade, é só observar a situação precária que ficou os pequenos produtores do Sul do país, na chamada indústria do frango, com a fusão entre Sadia e Perdigão. Muitos grupos, com capital externo só visam praticar no Brasil, o mesmo processo colonial de exploracão de recursos naturais agrícolas que se via no país desde seu descobrimento. O alvo está errado. Na prática, os grandes grupos empresariais rurais não podem, não devem ter o mesmo tratamento dos médios; e essa situação, também é culpa dos médios e pequenos produtores que insistem em apoiar, em não ver como inimigos do país, de seus negócios, esses grupos empresariais, e sim, tem como inimigos movimentos sociais que tem como nobre função gerar uma melhor distribuição de terras ,de renda, e criar no Brasil um crescimento endógeno, na qual o trabalhador obtenha melhor poder de consumo pelo salário que recebe ao invés de ser consumidor de produtos financiados a altas taxas de juro só aumentando o lucro de bancos e financiadoras, várias delas com tentáculos no campo brasileiro, e o médio proprietário não a vê como inimigo, e sim como aliado, “colega de trabalho”.
Enquanto os médios proprietários não tiver clareza da situação, e forçar uma mudança de paradigma, de consciência de classe, ele será massa de manobra, soldado a sofrer baixa. O irônico disso tudo, é que os médios proprietários acusam trabalhadores do MST de massa de manobra do movimento e não olham para o próprio nariz, sendo eles mesmos massa de manobra do capital.

Geliane Gonzaga
www.geliane-detudoumpouco.blogspot.com

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