segunda-feira, 12 de julho de 2010

REFLEXÃO SOBRE A CONDIÇÃO HUMANA DO IDOSO

Geliane Gonzaga

Na minha humilde opinião há uma grande diferença entre dignidade humana e condição humana. Entendo como dignidade humana, não só do idoso mas qualquer faixa etária da vida, condições mínimas de sobrevivência: Direito a moradia, emprego/ salário compatível com alimentação , saúde, acesso a ensino de qualidade, cultura dentre outros. Já condição humana,entendo como autonomia em relação a vida de forma geral. O que vestir, a forma e liberdade de pensamento, objetivos na vida, sonhos, o livre arbítrio, o direito de errar, acertar, aprender, relações de amizades, afinidades e convivência, a quem recorrer em casos de urgência, escolher tratamento médico, enfim, ter as rédeas de nossa vida em nossas mãos, isso é condição humana, ou seja nos diferencia de outros animais irracionais que vivem de acordo com que o meio proporciona. Nos humanos, podemos nos adaptar a diferentes situações, e readaptar conforme as condições nos oferecer mudanças.
Hoje em dia, na sociedade atual a própria legislação é feita para proteger e dar ao idoso uma melhor condição de vida. O Estatuto do Idoso está ai para provar e confirmar essa constante preocupação com os mais velhos, principalmente nas sociedades em que os idosos começam a se tornar um grande contingente populacional como no Brasil. Isso é extremamente positivo e bem vindo; acho até que não basta apenas existir tal estatuto, é necessário mobilização social em todos os níveis visando não só o cumprimento da lei já aprovada mas buscar sempre um contínuo avanços dos direitos dos idosos.
É conceito comum entre as pessoas, dizer que o idoso “volta” a fase de infância,sendo um período da vida em que as atenções, cuidados a ele são parecidos, as vezes até iguais as atenções e cuidados dispensados aos pequeninos. E essa opinião que acaba sendo quase um senso comum, acho muito perigoso para a qualidade de vida do idoso. A velhice é uma fase em que o ser humano, perde parte de sua condição humana, aquela condição física que antes permitia realizar várias atividades já não é mais a mesma, mais muitas vezes, o desejo é o mesmo, os gostos, os sonhos as aspirações e ideologias da vida permanecem, mas as condições de executar não é mais a mesma. É comum observarmos em famílias exemplares no tratamento de seus entes queridos na velhice, uma preocupação de “blindar” os idosos das vicissitudes, dos problemas comuns aos seres humanos e presentes na vida de todos, e quando esses idosos descobrem problemas até então, por amor, escondidos ou maquiados pelos seus entes queridos, eles se chateiam e não concordam com tal teatro, ou seja, sentem-se traídos pelos próprios familiares. O idoso, não é como a criança, um “CD virgem”, sem conteúdo, sem opinião, e isso temos certa dificuldade de entender e principalmente aceitar. Ora, tratamento assim, de blindar em exagero , corresponde a uma perda de condição humana, pois são tratados como incapazes. Você que tem média idade e lê esse texto, gostaria de ser tratado assim? Será que temos o direito de tratar nossos entes queridos como indivíduos de segunda categoria? Já que causa aborrecimento no idoso podemos taxar de amor sadio?
Sob a ótica do senso comum que o idoso volta a ser criança, gostaria de expor algumas diferenças, que ao meu ver que merece reflexão. O amor que temos no idoso e que temos na criança, tem objetivos totalmente diferentes. Não podemos tratar o idoso igual trata-se a criança. A criança, queremos desenvolver a sua condição humana, e o idoso, retiramos a sua condição humana. Quando a criança começa a andar, apoiamos em seu novo ato, quando essa está pré adolescência/ adolescência, nos à preparamos para o futuro, para a ter autonomia, pensamentos próprios, ter caráter, ser trabalhadora , responsável dentre outras. Valores assim, independente da cultura, religião, posição social ou qualquer outro fato étnico que a diferencie, todas as comunidades tem como valores sóbrios e corretos na criação de seus pequenos. Apoiamos e incentivamos seu caminhar,sua busca de condição humana.
Já com o idoso,talvez porque ainda não passamos essa fase (conhecemos na prática os valores da criança, do adolescente porque vivemos essa fase e a velhice ainda não), nos insistimos, em muitas vezes sem ter consciência disso, a amputar do idoso sua condição humana. Maquiamos fatos, quando não escondemos, limitamos, quando não proibimos sua autonomia de ir e vir, de pensamento, de ação, ou seja de escolher o rumo de sua vida, aceitamos o que nós consideramos ideal para ele e não o que ele acha que pode ou deve fazer; retiramos dele, a condição crítica e legítima de ter experiências na sua vida, boas ou más, limitamos seu crescimento, sua metamorfose de valores e idéias, impondo a ele uma situação de vivencia dentro do que nós consideramos correta o que necessariamente não é o que ele considera correta. Ao agirmos assim, em nome de um amor torto retiramos totalmente a sua condição humana de dono de sua vida. Será que temos esse direito? Será que além de todos os problemas típicos do idoso, como a presença da morte sempre constante, o limitar de sonhos e previsões de futuro, a fraqueza física e mental, o preconceito existente quanto as suas capacidades e possibilidades de contribuir para a sociedade,ainda temos o direito de condená-lo a viver uma “fantasia” de vida até os seus últimos suspiros, livre se situações que proporcionará a ele crescimento moral e intelectual tipos das experiências humanas ?
Devemos sempre cuidar da dignidade humana de nossos entes queridos idósos, é nossa obrigação legítima com quem nos formou, com quem em grande parte é responsável pelo que somos mas nunca devemos retirar-lhes a condição humana em nome de um amor que se revela autoritário e centralizador. É difícil para quem tem um idoso em casa não contribuir para retirar sua condição humana, já que a vida por si já faz isso. Mas é de nossa responsabilidade pensar em nossos atos e falas, principalmente para não condenar um ser humano com tantas experiências a oferecer a uma condição de semi- incapacitado em nome do amor. Isso, eu não quero pra mim quando chegar a minha hora.

Nenhum comentário: