domingo, 3 de janeiro de 2010

PAPEL DA EDUCAÇÃO NA SOCIENADE NEOLIBERAL

Geliane Gonzaga

A inversão na educação.


É muito comum ao conversar com as pessoas mais velhas, e ouvir delas em seus relatos sobre a educação pública brasileira, a visão de uma situação contrária a atual. Nas décadas de 50/60/70, a escola pública era considerada melhor que a privada, ou seja, em nossa época, a educação privada tem melhores recursos e nela se concentra a elite brasileira, e o sistema educacional atual, visa é justamente a perpetuação dessa estrutura elitizada na distribuição e apropriação da riqueza produzida.
A grande mudança, ou seja, a precarização da educação pública e a elitização da educação privada passa pela industrialização brasileira, onde o grande número de pessoas vindas do campo no advento da implantação das indústrias , tornava-se necessária a alfabetização, já que nas cidades, era necessário conhecer o roteiro do ônibus, o preço das mercadorias, a placa de propaganda, enfim, um grande número de informação e novas necessidades que não eram necessárias para a vida diária e as atividades desenvolvidas no espaço rural, sendo assim, houve um grande aumento de pessoas da classe trabalhadora a procurar a escola pública, dando a ela um perfil popular, onde a elite passou a valorizar a escola privada no sentido de segregar e reafirmar sua posição de elite, e como consequência direta disso, assistimos a falência do sistema educacional público.
Interessante observar, que tal fato não ocorreu no ensino superior, onde as universidades públicas contam em sua grande maioria, alunos vindo das escolas particulares, e os alunos da escola pública, caem na universidades privadas; há uma inversão no que tange ao ensino superior, demonstrando claramente que a parcela do ensino fundamental e médio que freqüentou a escola privada é justamente a que freqüenta a universidades públicas e vice e versa. Agora, porque que essa situação se estrutura dessa forma? Porque dessa inversão entre estado e iniciativa privada? Isso, é muito mais amplo do que as aparecias demonstram, o pano de fundo desse processo tem raízes profundas como veremos a seguir.

Meios de produção


Para a produção de mercadorias e como consequência de riquezas, podemos dividir as forças produtivas em partes. Os meios de produção, (máquinas, estrutura física ), o objeto a ser transformado ( matéria-prima) e a força de trabalho, essa atribuído ao trabalho humano em forma de salário. Vale lembrar, que a transformação da matéria prima e conseqüente produção de riqueza, só é possível l pela força de trabalho, de outra forma, as máquinas não transformariam a matéria prima como que por mágica, e segundo esse raciocínio extremamente lógico, a riqueza é produzida pela força de trabalho humano, sendo assim, o salário pago ao trabalhador, é menor que a riqueza por ele produzida, e para perpetuar esse processo de pagamento menor e riqueza produzida maior, a ideologia dominante conta com o apoio do sistema educacional.

Não há duvidas que, quanto maior a capacitação e a escolaridade do indivíduo, maior seu ganho e sua condição dentro da escala produtiva, ou seja, se um número muito grande de pessoas, atingirem uma escolaridade avançada haverá falta de mão de obra barata, assim, o sistema educacional público organiza a sociedade conforme sua necessidade de força de trabalho, e reserva o ensino superior de melhor qualidade nas universidades públicas a elite que tem a opção ou oportunidade de freqüentar o ensino fundamental e médio na rede privada, hoje valorizada, com recursos, e principalmente elitizada.
A escola, tem uma visão intelectualista, tendo como resultado prático a não visão de futuro por parte do aluno, no conteúdo ensinado, os conteúdos se tornam estranho a criança que tende em grande número a sair da escola, e os que ficam, por essa estranheza com o meio, geram indisciplina, não há “motivo” para o estudo, já que para essa família que tem como fonte de renda o salário mal pago, como vimos acima, é mais importante o adolescente trabalhar ao invés de dedicar ao estudo, coisa que as famílias elitizadas não precisam de preocupar, a sobrevivência no sentido exato da palavra; os alunos dessa classe (elite) tem a real visão da necessidade do estudo. Dessa forma, mesmo antes de ingressar na escola, o sistema educacional público vigente contribui para a reprodução de mão de obra barata, com pouca instrução, em grande escala para perpetuar os interesses e a lógica da classe dominante.

O Neoliberalismo

Claro que o citado acima, exige um grande processo ideológico, e esse processo é a essência do neoliberalismo. Esse sistema ou forma de organização social e econômico, tem no consumo seu maior aliado. O neoliberalismo, é um fracasso econômico ( mundo em recessão) mais um sucesso ideológico. O fracasso social, (violência ,fome, desigualdade) não é atribuído ao sistema, e sim a pessoa. O pequeno agricultor, o pequeno dono de mercearia, a pequena indústria tem na incompetência seu fracasso, e na realidade, seu fracasso é produzido pelo grande hipermercado, por grupos de investidores que mudam o capital de ramo conforme a conveniência econômica, e precisam dessa forma, até mesmo por ter grandes tentáculos espalhados em vários setores, profissionais qualificados para administrar, organizar produção e esses pequeno número de profissionais (executivos, diretores etc), bem remunerados são na maioria das vezes aqueles que tem suas famílias melhores estruturadas, que cursaram ensino fundamental e médio na iniciativa privada e o ensino superior em universidade pública, melhor qualificando para trabalhos de chefia e administração enquanto a grande maioria da escola pública deficiente é preparada para ser a mão de obra de todo o processo. A ilusão do consumismo sem necessidade, a obsolência programada dos produtos, a necessidade de consumo para encontrar posição na sociedade, só fomenta, alimenta, esse sistema cruel e não sustentável meio e modo de consumo a vida no planeta. É extremamente necessário, por questão de sobrevivência das gerações futuras que mudemos nosso padrão de consumo, que não troquemos de celular só por estética e jogamos na gaveta o anterior, mas isso, não conseguimos fazer, o neoliberalismo, seus comportamentos consumistas nos conquistaram e nos fazem sonhar em comprar. A sociedade do ter, e não do ser. Por esse motivo, e vários outros que não cabe citar agora, o neoliberalismo é um sucesso ideológico, infelizmente para o mundo..

Democracia na escola

Nas escolas é comum falar em democracia. Mas será que a forma como é abordada a democracia aos educando é correta? Ou nós tratamos a democracia ao estilo dos EUA, que tem sua concepção imperialista e utilizam do argumento de liberdade e consumo para oprimir e apropriar das riquezas alheias, como aconteceu descaradamente no Iraque. Não se pode tratar diferenças com semelhanças. Não se pode colocar na escola, no mesmo sistema educacional um deficiente visual ou portador de alguma síndrome como se não houvesse problema algum. Não se pode tratar o filho do operário, do favelado da mesma forma que se trata o filho do patrão. Não se pode dar 10% para quem tem 1000 e 10% a quem tem 100; isso só perpetua as diferenças e a exclusão. Isso acontece com os impostos no Brasil, onde o mesmo percentual de ICMS sobre a carne ou qualquer outro bem,é paga por quem ganha salário mínimo e quem ganha milhões, isso perpetua a condição de excluído, é leve ao rico e pesadíssimo ao pobre assalariado. É democracia idiota voltada aos interesses da elite, é preciso mudar a constituição para depois mudar o sistema educacional, porque na lei, temos os mesmos direitos, todos somos iguais, mas na prática a alguns que são mais iguais que outros. Questionamentos como esses devem fazer parte do dia a dia de quem trabalha com educação; afinal queremos uma educação que em sua grande maioria só forma mão de obra barata, ou queremos realmente uma educação que forme cidadão consciente com o futuro da sociedade local , do país e do planeta? Essa questão deixo para você refletir, amigo leitor.

www.geliane-detudoumpouco.blogspot.com

Um comentário:

AF Sturt Silva disse...

Muito coerente seu artigo ,sem dúvida é uma reflexão muito proveitosa.