domingo, 26 de outubro de 2008

Entrevista Igor Grabois (Jornal Vanguarda)




O Sr. Igor Grabois,dirigente sindical e membro nacional do PCB, esteve em visita a Franca no último dia 24 de outubro de 2008.Na ocasião, além de participar de reuniões com militantes do PCB, concedeu algumas entrevistas a imprensa local.Segue abaixo na íntegra uma dessas entrevista concedida ao jovem jornalista Thales Stewart que representou na ocasião o jornal Vanguarda, ligado ao Centro Paula Souza de ensino (Industrial)


No dia 24 de outubro a equipe do jornal Vanguarda foi convidada para uma entrevista com o amigo Igor Grabois, economista e secretário sindical do PCB. Natural de São Paulo, Igor participa ativamente de congressos, ministra palestras e atua de forma impar na sociedade, defendendo a igualdade entre as pessoas e as maneiras pelas quais podemos mudar a realidade.

1-Vanguarda: Os jovens estão cada vez mais desencantados com a sociedade, conseqüentemente com a política. Quais seriam os motivos disso? E as possíveis soluções?
Igor: O primeiro ponto seria a própria realidade política do país, os exemplos que se tem. Não há oposição marcante, as iniciativas estão iguais e a própria mídia colabora com isso. O individualismo também tem parte nisso, os novos meios de comunicações como a internet, que prende o cara lá, na tela, filtra as emoções que poderiam ser vivenciadas pessoalmente. Esse seria o segundo ponto, os jovens não têm a experiência coletiva, ficam grande parte do seu tempo sentados atrás da tela do computador, com MSN, e Orkut (que virou uma praga) [risos] todo o convívio em sociedade é substituído pelo computador. Não que a internet não seja uma ferramenta importante de aprendizado nos dias de hoje, mas o convívio social se tornou menor. Há vizinhos, por exemplo, que têm altos papos pelo MSN, Orkut, mas que quando se vêem, quase nem se cumprimentam(...). Não se vê hoje em dia, com tanta freqüência, uma rodinha com alguém tocando violão, ou pessoas se encontrando na praça, no cinema(...). Enfim, é uma questão de experiência coletiva.

2- Vanguarda: O jovem de hoje parece não pensar muito em mudar, muitos querem completar 18 anos, comprar seu carro, por exemplo, e viver a vida. O jovem de hoje ainda quer mudar o mundo?
Igor: Sim, há muitos movimentos jovens nesse sentido, nas universidades, a união nacional dos estudantes, a força sindical(...). Fiz parte de alguns desses movimentos(...). Os jovens sempre estão à frente de movimentos para a mudança, o movimento dos caras pintadas, por exemplo, não se deve o fato somente a Globo, que coincidentemente exibiu a novela Anos Rebeldes na época, havia força popular, apesar da mídia. As Diretas Já também foi uma mobilização jovem muito grande. Eu mesmo participei de alguns movimentos que... Sentia-me em 1968... Há também um grande apoio dos jovens ao MST, a reforma agrária e à igualdade. O que é necessário é a conscientização, é a visão de coletividade, deixar um pouco o individualismo(...). Enfim é ver o que realmente acontece.

3-Vanguarda: A educação ainda tem papel nesse processo de conscientização do jovem?
Igor: A educação e a cultura têm ainda aquela função de despertar o interesse, de inserir [as pessoas] em sociedade. O mais importante é o jovem procurar se informar. A televisão e a nova mídia, a internet, têm essa característica de padronizar as visões, é em massa, para todos, e por isso é necessária a informação confiável, a internet não é uma ferramenta confiável de pesquisa como é um livro(...). Quando você está na universidade, qual a ferramenta mais usada? você usa principalmente o livro, a internet, os semanais são complementares. Mas infelizmente não temos uma cultura de freqüentar bibliotecas.

4-Vanguarda: A cultura, apesar de tudo, não é para todos. Aqui em Franca mesmo, se um grupo considerável resolvesse assistir a uma peça no teatro, não caberia a metade, nos cinemas só são exibidos blockbusters (sucessos de público) e as bibliotecas são deficientes. Como uma pessoa de poucos recursos pode obter cultura(fora da tradicional)?
Igor: O cinema, o teatro, a literatura, ou seja, a cultura erudita ainda não está disponível para todos. O livro no Brasil ainda é muito caro. No entanto, não disponho dos números, mas nunca se leu tanto no país como hoje, pensou-se que com a internet o papel, o livro acabaria. Pelo contrário. Mas ainda não temos o hábito de ler. Outro dia [eu] estava esperando pelo ônibus e peguei um livro, até grande, e comecei a ler, chegou um rapaz, e se admirou, disse que eu era um homem culto e tal. Uma coisa tão simples, eu não estava fazendo nada e achei o livro por quinze reais(...). Temos os sebos também, nada se compara a você chegar num sebo e garimpar(...) acha-se muita coisa interessante. O cinema também é um bom meio, lembro-me de quando assisti “A Guerra dos Botões”, um clássico muito legal, “O Encouraçado Potemkin” que é um filme de ação muito bom, que foge dos blockbusters, é muita ação você ver os marinheiros se rebelando contra os oficiais e tomando o navio(...). Há movimentos também que preservam a cultura local, estive em Recife e pude ver o Manguebeat, que mistura vários ritmos: rock, maracatu(...). No Rio, na Praça Mauá (aonde chegavam os escravos), tem o samba, o samba tradicional mesmo curtido pelos universitários, quase todos jovens, e que se fosse anunciado não caberia a quantidade de pessoas, lotaria... E a mídia fica fora, não divulga(...). Em São Paulo, o movimento do Hip-Hop na periferia(...). E nada impede que esses movimentos à margem se interliguem com a cultura erudita, o Hip-Hop com a literatura, por exemplo, no cinema, no teatro.

5- Vanguarda: No caso do Brasil especificamente, como você vê a movimentação dos jovens para mudar a realidade e/ou o futuro?
Igor: Na sua maioria os jovens estão ligados, o que tem de acontecer é o convívio em sociedade mesmo, a experiência coletiva. Tem caras na comunidade do PCB no Orkut, que protestam, postam comentários, expõem a opinião, mas que nunca vemos numa passeata, num movimento. E isso é necessário. [Em contrapartida] os blogs, que são muitos, é uma boa ferramenta para a formação de idéias, são mídias independentes, você imagine cada grupo com seu blog difundindo idéias(...). O jovem tem que procurar se informar, e os blogs ajudam nisso. A mobilização para mudar depende desse conhecimento e da visão da coletividade, pensar no outro.Tomar conhecimentos dos problemas, e é dessa maneira que o jovem vai “acordar” , ver como as coisas são. Esse é o caminho.

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